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“Não receies o espaço entre os teus sonhos e a realidade. Se és capaz de a sonhar, também és capaz de a fazer acontecer.” — Belva Davis
Há uns meses atrás (uns bons meses, mas não sei ao certo), conheci um sem-abrigo que dormia lá na rua onde vou entregar as refeições e que não se conseguia levantar para poder obter a sua. Depois da fila desaparecer, lá fazia eu um "kit" e ia entregá-lo ao senhor, juntamente com um copo de sumo e um de café bem quentinho. Fui conversando com ele, sabia-lhe o nome, sabia-lhe a sua história e a da filha, uma toxicodepente, outrora advogada. Durante muito tempo fiz este pequeno gesto, até ao dia em que ele desapareceu dali. Os outros senhores diziam que ele fora hospitalizado e, com o passar dos meses do seu súbito desaparecimento, convenci-me a mim mesma da sua morte. Pronto, dizia eu, é o destino da maioria deles. Admito que com o tempo me esqueci dele, sim. Até ontem. Até um homem apoiado numa moleta ter vindo buscar a refeição. Dei-lha e ignorei. Era impossível o reconhecimento. Barba branca enormissima, gorro e casaco grande. Quase não lhe vi a expressão. Depois de, mais uma vez, a fila ter desvanecido, lá fui eu distribuir meias. Meias, meias e mais meias. Vi o senhor a comer a sua refeição, bem lá ao longe, distanciado dos demais. Andei, andei e dei-lhe um par com um Não me esqueci de si e um sorriso. Sorriu-me de volta e voltei para o carro, já tão conhecido naquela zona. Já nas últimas, fui distribuir a maçãs que sobraram e , mais uma vez, fui dar uma àquele senhor. Como já tantas vezes o fiz perguntei-lhe o nome. Carvalho, disse ele. Perguntei-lhe o primeiro nome e, quando ele mo disse, vos garanto que quase caí de joelhos a chorar em frente a ele. Era o homem desaparecido, era o homem com quem eu conversei durante tantas semanas. Oh Deus... Fiquei completamente emocionada e tive mesmo de lhe dizer "Pensei que tinha morrido..." ao que ele me respondeu com um Acha mesmo que eu morria assim? Acho que nesse momento atingi o meu auge de felicidade, desde à algum tempo! Lá me contou o que lhe tinha acontecido, e voltei à igreja para lhe trazermos 3 cobertores. Tapei-lhe os pezinhos com um mais pequeno, e cobri-lhe o resto do corpo com outro cobertor e um edredon. "Durma bem, senhor Adelino."
Também à cerca de dois meses que perdemos mais um comensal, que desapareceu do nada. Hoje encontrei-o e perguntei-lhe o que era feito dele. A melhor resposta que poderia ter ouvido hoje saiu-lhe alegre da boca "Arranjei emprego".
Ontem um engraçadinho disse-me que ia casar hoje no BIG BEN! Boa sorte com isso, homem! xD
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